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Agronegócio

Trump ataca o Brasil e nos obriga a repensar o futuro

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A imposição de tarifas de 50% pelos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros não é apenas um revés comercial, é um alerta geopolítico. Essa medida, tomada de forma unilateral e com forte tom ideológico pelo presidente Donald Trump, escancara o uso do comércio internacional como arma política. E coloca o Brasil, mais uma vez, no papel de país vulnerável à instabilidade dos grandes.

Como analista há anos dedicado a entender a engrenagem entre política e economia, vejo nessa decisão um movimento que vai muito além das exportações de café, suco de laranja, aço ou aeronaves. O que está em jogo é a nossa capacidade de projetar uma visão estratégica de nação. E é aqui que entra a crítica: seguimos exportando produtos de baixo valor agregado, com pouca diversificação de mercados e com enorme dependência de poucos parceiros comerciais.

Crescemos nas exportações, mas não crescemos politicamente. Nossa classe política tem se mostrado incapaz de preparar o Brasil para os novos desafios globais. Somos um gigante com cabeça pequena e pés de barro: vendemos muito, mas pensamos pouco. Enquanto o mundo se move com rapidez e estratégia, ficamos presos em disputas ideológicas estéreis. Essa ignorância custa caro, e penaliza justamente os mais pobres, que pagam a conta da paralisia política e do atraso institucional.

As estimativas do BTG Pactual de queda de até US$ 13 bilhões em exportações até 2026 são relevantes, mas o que mais preocupa não é o número absoluto, e sim o tipo de produto afetado: petróleo, café, ferro, carne e suco de laranja. Ou seja, a espinha dorsal do nosso agro e da nossa indústria básica. Produtos que geram emprego, arrecadação e que, historicamente, sustentam o superávit da balança comercial.

É evidente que o Brasil tem alternativas de mercado. China, Índia, Vietnã, Emirados Árabes e até a União Europeia aparecem como possíveis destinos. Mas isso exige logística eficiente, acordos comerciais bem costurados e, principalmente, qualidade e competitividade.

O problema é que ainda patinamos nesses pontos. Nossa infraestrutura é precária, os gargalos logísticos encarecem o frete e as negociações externas são lentas e reativas. O mundo pede agilidade e sofisticação, enquanto nosso modelo exportador ainda é basicamente primário.

Uma janela de reinvenção

Apesar do baque, esta crise pode ser uma chance histórica de rever rumos. O governo precisa parar de tratar política externa como vitrine ideológica e começar a enxergá-la como ferramenta de Estado. O setor privado, por sua vez, precisa investir em tecnologia, rastreabilidade e agregação de valor — principalmente no agro.

Esse episódio também escancara a necessidade de diversificação geopolítica. Não podemos ficar à mercê do humor de líderes estrangeiros, seja Trump ou qualquer outro. A soberania econômica passa por termos poder de escolha, e isso só se constrói com planejamento estratégico de longo prazo.

Concluindo: o tarifaço de Trump é um divisor de águas. Mais do que um golpe econômico, é um choque geopolítico que revela nossas fragilidades estruturais e nossa dependência de decisões externas. Como analista, vejo aqui uma oportunidade rara: a de usar a crise como alavanca para um novo projeto de país. Mas isso exige coragem política, visão estratégica e união de forças entre governo, empresários e sociedade civil. Do contrário, continuaremos apenas reagindo. E perdendo.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural


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