A crescente pressão por resultados, combinada à necessidade de manter estruturas jurídicas cada vez mais enxutas, tem forçado os departamentos jurídicos a reverem sua lógica operacional. Em vez de novas contratações permanentes, o mercado jurídico corporativo vem adotando soluções mais inteligentes e adaptáveis, e, entre elas, o secondment desponta como uma das mais eficazes.
O que antes era visto como solução emergencial para cobrir licenças ou reforçar uma equipe sobrecarregada, hoje é assumido por muitas empresas como parte de sua estratégia permanente de alocação de recursos jurídicos. Mas, para além da aparência de um modelo flexível, o secondment, quando bem estruturado e contratado de forma especializada, oferece benefícios que vão muito além da redução de headcount.
RH não tem pressa, mas o negócio tem
Um dos pontos frequentemente negligenciados por empresas ao considerar alternativas para reforço jurídico é o impacto do processo interno de contratação via Recursos Humanos. Embora indispensável para a estrutura organizacional, o RH naturalmente atua em múltiplas frentes e com prioridades diversas, desde seleção para áreas comerciais até recrutamento técnico, passando por programas de diversidade, clima organizacional e compliance trabalhista.
Nesse cenário, vagas jurídicas acabam enfrentando um funil mais lento, com dificuldades adicionais, como especificidade técnica, necessidade de rápida curva de adaptação, domínio regulatório e familiaridade com o negócio. Esses elementos tornam o processo seletivo jurídico não apenas mais complexo, mas frequentemente mais demorado.
Ao contrário disso, escritórios especializados em secondment operam com equipes preparadas para esse tipo de alocação, com bancos de talentos prontos, processos internos ágeis e experiência prática na identificação de perfis compatíveis com as dinâmicas empresariais. O tempo entre o pedido e a efetiva alocação de um profissional é drasticamente reduzido, permitindo ao jurídico interno manter a fluidez de suas entregas sem depender de aprovações hierárquicas demoradas.
Eficiência que vai além do custo
O corte de despesas fixas com pessoal continua sendo uma vantagem inegável. Mas não é, e nem deve ser, o principal driver para a adoção do secondment. O que se observa em companhias que já internalizaram esse modelo como prática estratégica é um redesenho da função jurídica, com ganho de inteligência, integração e resposta ao negócio. Dentre os benefícios menos visíveis, mas altamente relevantes, destacam-se:
Especialização contextualizada. Advogados em regime de secondment trazem repertório de diferentes setores, jurisprudências e modelos de gestão, entregando soluções técnicas adaptadas ao setor e à cultura da empresa.
Curva de adaptação reduzida. Por terem vivência prévia em estruturas corporativas e conhecimento jurídico consolidado, os secondees operam com autonomia desde os primeiros dias, reduzindo o tempo de aprendizado e aumentando a produtividade.
Governança contratual e trabalhista. Escritórios especializados asseguram que o modelo esteja juridicamente estruturado, evitando riscos de subordinação indevida, reconhecimento de vínculo ou passivos trabalhistas, risco esse que muitas empresas ignoram ao contratar profissionais alocados sem intermediação formal ou sem contrato bem redigido.
Integração com visão externa
Outro ponto frequentemente subestimado é o impacto positivo da atuação do secondment como ponte entre o jurídico interno e o escritório parceiro. Em vez de operar em estruturas estanques, o profissional alocado fortalece o canal de comunicação e acelera a resposta técnica, encurtando o tempo de análise e aumentando a assertividade na tomada de decisão. Trata-se de uma vantagem importante, sobretudo em empresas com demandas complexas, prazos curtos e alta exposição a riscos reputacionais ou regulatórios.
Mais do que fornecer um par de mãos extras, o secondment permite que o jurídico atue com visão ampliada, usufruindo da experiência prática acumulada em diferentes realidades empresariais e com apoio técnico em tempo real, algo que dificilmente se alcança por meio de contratações convencionais ou alocações genéricas.
Transformação estrutural, não improviso
Ignorar o potencial estratégico do secondment é perder a oportunidade de reformular o papel do jurídico dentro da organização. Em tempos de racionalização de custos, aumento da litigiosidade e sobrecarga regulatória, adaptar-se é imperativo. E adaptar-se com inteligência é o que separa estruturas jurídicas que sobrevivem daquelas que realmente sustentam o crescimento da empresa.
Ao escolher parceiros certos, com governança clara e foco específico em soluções jurídicas sob demanda, a empresa transforma o secondment em uma alavanca de performance, segurança e previsibilidade. E, quando esse movimento é feito com critério, deixa de ser solução emergencial para se tornar parte do DNA da eficiência corporativa.
Vale a pena, neste momento, observar com atenção o mapa atual do seu departamento jurídico. Onde estão os gargalos? Que áreas da operação jurídica poderiam se beneficiar de reforço especializado, sem gerar rigidez orçamentária? Que demandas estratégicas estão sendo adiadas por falta de tempo, foco ou capacidade de absorção interna? Talvez não se trate de contratar mais gente, mas de alocar melhor os recursos disponíveis.
Secondment não é um remendo. É uma escolha madura, estratégica e alinhada à lógica de negócios que exige menos improviso e mais inteligência na alocação de capital humano.
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