Brasil e Mundo
Refina Brasil vê avanço do E30 como positivo e alerta para riscos diante da nova escalada no Oriente Médio
A tensão em torno do Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do petróleo global, acendeu um sinal amarelo no setor
Em meio a uma trégua instável entre Irã e Israel e o temor de novos ataques na região, o presidente da Refina Brasil, Evaristo Pinheiro, avalia que o Brasil deve aproveitar o momento de alerta geopolítico para priorizar sua segurança energética. A tensão em torno do Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do petróleo global, acendeu um sinal amarelo no setor. Para ele, se o conflito voltar a escalar, o mundo poderá enfrentar problemas logísticos severos no abastecimento. “Se a guerra escalasse a ponto de ocorrer o fechamento do Estreito de Ormuz, você tem um problema de movimentação logística de petróleo no mundo”, alertou.
Embora o risco de desabastecimento ainda não seja concreto, o impacto no preço já é perceptível — e inevitável. “A oscilação de preço em si não, porque a gente tem de onde comprar combustível, a gente compra combustível da Rússia, a gente compra combustível dos Estados Unidos, né? Pouco também da Índia, mas a gente tem fonte de abastecimento. O que sim tem de acontecer é aumento de preço”, afirmou. Diante desse cenário, Evaristo reforça que o Brasil precisa tratar a soberania energética como prioridade. A instabilidade internacional escancara o grau de exposição do país a fatores externos e evidencia a necessidade de fortalecer internamente a produção de combustíveis.

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Na véspera do anúncio do governo federal sobre o aumento da mistura obrigatória de etanol na gasolina para 30% (E30) e do biodiesel no diesel para 15% (B15), a Refina Brasil se posiciona de forma favorável à medida. A avaliação é de que os biocombustíveis contribuem diretamente para a transição energética e para a estabilidade do setor.
“O consumo de gasolina vem aumentando 2% ao ano. Para nós, é neutro e até positivo sob o ponto de vista de segurança energética. Representamos tanto o refino tradicional quanto o biorefino, que é a produção de combustíveis a partir de 100% de biomassa”, destacou.
Apesar disso, Evaristo chama atenção para a fragilidade estrutural do Brasil. O país possui capacidade de armazenamento de combustíveis suficiente para apenas seis dias, além de um déficit de refino de aproximadamente 600 mil barris por dia. Mesmo sendo autossuficiente na produção de petróleo, o Brasil ainda depende da importação de derivados — o que amplia a exposição a crises e oscilações externas. A falta de previsibilidade no mercado interno também é vista como um entrave ao avanço do setor. O domínio da Petrobras sobre 60% da capacidade de refino nacional permite que a estatal defina os preços praticados no mercado. Empresas privadas, com menor participação, acabam forçadas a seguir essa referência, mesmo que isso comprometa sua viabilidade econômica.
Quando a Petrobras vende combustíveis abaixo do preço de mercado, as refinarias privadas operam com prejuízo. Esse desequilíbrio inviabiliza novos investimentos e perpetua a dependência externa do país em combustíveis processados. Para Evaristo, essa lógica trava a expansão da capacidade de refino nacional e compromete a construção de um mercado competitivo. Segundo ele, o ambiente atual afasta investidores interessados em ampliar a estrutura de refino no país. Caso o Brasil corrija essas distorções e estimule a competitividade, há potencial para atrair mais de R$ 70 bilhões em investimentos, gerar 4.500 empregos e arrecadar mais de R$ 20 bilhões para os cofres públicos.
A divulgação do Relatório de Sustentabilidade da Petrobras, no último dia 17 de junho, acrescenta dados relevantes ao debate sobre a transição energética. O documento informa que a empresa pretende investir US$ 16,3 bilhões em projetos voltados à redução de emissões nos próximos cinco anos. Também aponta que, desde 2015, houve redução de 40% nas emissões absolutas de CO₂e. As ações previstas devem gerar até 315 mil empregos no período.
Entre as medidas mencionadas, estão a construção de unidades voltadas à produção de diesel renovável e querosene de aviação sustentável (SAF), testes com combustíveis marítimos de menor emissão, entrada no mercado de créditos de carbono, ações ambientais e programas sociais de qualificação profissional. O relatório também cita parcerias internacionais ligadas à meta de descarbonização.
Para a Refina Brasil, o sucesso dessas iniciativas depende da construção de um ambiente mais equilibrado para o setor privado. O fortalecimento da capacidade de refino no país, aliado ao avanço dos biocombustíveis e à correção de distorções no mercado interno, é visto como um passo necessário para que o Brasil reduza sua vulnerabilidade externa e avance rumo à segurança energética.
