InícioGeralPrefeito de Sorocaba defende vídeos virais e banca “prédio de Marçal”

Prefeito de Sorocaba defende vídeos virais e banca “prédio de Marçal”

São Paulo — Imagine uma cena gravada em um ambiente hospitalar, em que médicas simulam o atendimento a uma pessoa com parada cardíaca. Quando uma delas usa o desfibrilador para reanimar o “paciente”, ele se levanta, olha para a câmera e começa a falar, com voz acelerada, sobre as realizações da prefeitura de sua cidade. Na sequência, pipocam na tela imagens de obras e de encontros do prefeito com a população.

O vídeo com a cena acima foi publicado em agosto deste ano nas redes sociais de Rodrigo Manga (Republicanos), prefeito de Sorocaba que interpreta o paciente atendido na gravação. À frente da sexta maior cidade paulista desde 2021, o político defende o uso do que chama de “brincadeiras” como estratégia para se comunicar com os moradores de Sorocaba, que reúne mais de 750 mil habitantes no interior do estado.

“A população se cansou muito. Ninguém aguenta assistir um vídeo de um político falando de política”, diz. “Nós achamos um caminho [para resolver isso]”.

Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, Manga fala sobre os vídeos virais que produz e rebate críticas de quem o chama de “prefeito youtuber” pela forma que escolheu para divulgar sua gestão. “Não faço um vídeo apenas para ser engraçado. Faço buscando apresentar um resultado, algo que está para acontecer na cidade”.

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Prefeito de Sorocaba defende formato com "pegadinhas" para atrair atenção do morador da cidade e conseguir divulgar ações da prefeitura

Em um dos vídeos, prefeito defende propostas enquanto pessoa enche bexiga com água em cima de sua cabeça
Rodrigo Manga (Republicanos) convida Pablo Marçal a ocupar cargo de secretário em Sococaba
Rodrigo Manga foi um dos prefeitos que participaram de uma reunião com Jair Bolsonaro (PL) no Palácio da Alvorada
Prefeito de Sorocaba Rodrigo Manga (Republicanos)
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Rodrigo Manga (Republicanos) publica vídeos com estética viral nas redes sociais

Reprodução / Redes sociais

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Prefeito de Sorocaba defende formato com “pegadinhas” para atrair atenção do morador da cidade e conseguir divulgar ações da prefeitura

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Em um dos vídeos, prefeito defende propostas enquanto pessoa enche bexiga com água em cima de sua cabeça

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Rodrigo Manga (Republicanos) convida Pablo Marçal a ocupar cargo de secretário em Sococaba

Reprodução/Instagram

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Rodrigo Manga foi um dos prefeitos que participaram de uma reunião com Jair Bolsonaro (PL) no Palácio da Alvorada

Rafaela Felicciano/Metrópoles

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Prefeito de Sorocaba Rodrigo Manga (Republicanos)

Divulgação/ Rodrigo Manga

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O prefeito Rodrigo Manga

Prefeitura de Sorocaba

Reeleito no primeiro turno com 73,75% dos votos válidos, o prefeito comenta sobre o convite que fez a Pablo Marçal (PRTB) para que o terceiro colocado na eleição da capital paulista se tornasse secretário em Sorocaba, apesar dos vários escândalos envolvendo o influencer, e diz que irá construir o prédio de 1km de altura prometido pelo ex-coach durante a campanha paulistana.

“A gente imagina que será um investimento de no mínimo R$ 2 bilhões, que vai gerar aproximadamente 5 mil empregos”.

O prefeito fala, ainda, sobre quais serão suas prioridades para o próximo mandato, promete dar mais “destaque” ao combate à corrupção no governo, em meio a suspeitas envolvendo sua gestão, e diz que já recebeu convites de dentro e fora do partido para disputar as eleições de 2026 como deputado, mas negou deixar a gestão antes de 2028.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Vídeos virais

Quem abre o Instagram do prefeito reeleito de Sorocaba se surpreende com os vídeos publicados pelo político. Inspirados em virais da internet, os conteúdos mostram Manga jogando terra em “adversários”, levando banho de bexiga enquanto fala sobre suas entregas, e até fingindo atropelamento em uma rua da cidade.

As “pegadinhas” se somam aos “reacts”, dancinhas e uma série de outros vídeos feitos para chamar a atenção dos 462 mil seguidores que acompanham a página do prefeito. Ao Metrópoles, Manga diz que a proposta é se comunicar com a população de uma forma “mais leve” e defende o formato.

“A população se cansou muito. Ninguém aguenta assistir um vídeo de um político falando de política. Ninguém aguenta o horário eleitoral e muito menos na internet”, afirma. “Nós achamos um caminho [para resolver isso]”.

 

Manga diz que não faz os vídeos “apenas para ser engraçado” e rebate as críticas de quem o chama de “prefeito youtuber” por causa da estratégia.

“Apesar dos vídeos terem sempre uma maneira divertida no início deles, o meio sempre fala da realização que está acontecendo pela prefeitura, a obra que nós fizemos, a escola que nós inauguramos”, afirma.

Com desempenho na eleição melhor do que teve na disputa de 2020, o prefeito reeleito atribui parte dos votos de agora à iniciativa nas redes, que teria atraído a atenção dos eleitores mais novos, e vê sucesso na estratégia.

“Você vê que os jovens compartilham e você percebe nas ruas, eles brincam [comigo]. Na campanha foi assim: eles fazem coração, chamam atenção, têm esse engajamento maior”. O vídeo mais acessado do político até o momento já tem 12 milhões de visualizações.

Promessa do prédio de 1km

A presença forte do prefeito nas redes lembra outro personagem recente da política paulista: o influencer Pablo Marçal (PRTB), que fez uso massivo dos chamados “cortes” de vídeos para divulgar seu nome na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

Alvo de processos por suspeita de financiamento ilegal de campanha e pela publicação de um laudo falso contra o então adversário Guilherme Boulos (PSol) às vésperas do primeiro turno, Marçal foi convidado por Manga para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Sorocaba logo após perder a eleição paulistana.

Questionado sobre o convite a um nome cercado de polêmicas e alvo da Justiça, Manga diz que o episódio com o laudo falso foi “absurdo”, mas que ainda é preciso comprovar se Marçal fez ou “só publicou” o documento, e minimizou os problemas em torno do influencer.

“O convite foi feito para uma pasta específica, de Desenvolvimento Econômico. Nós sabemos que, apesar das polêmicas, ele é uma referência nessa questão de empresariado e tem negócios aqui na região metropolitana de Sorocaba”, diz o prefeito. “Entendemos que a vinda dele ia permitir abrir um leque de oportunidades para atrair outros investimentos para a cidade”.

Marçal negou o convite, mas Manga decidiu incorporar um dos projetos do político na futura gestão: a construção de um prédio de 1 km de altura, o que seria o maior do país. O objetivo, explica o prefeito, é instalar o edifício no centro da cidade, por meio de uma parceria com a iniciativa privada.

“Trazer um empreendimento desse para o centro da cidade gera desenvolvimento e traz o turismo, além do desenvolvimento econômico por si só”.

Durante as eleições na capital paulista, especialistas em urbanismo criticaram o projeto, que poderia gerar sombra de até 1,6 km nas ruas ao redor do prédio e teria impactos grandes no trânsito, esgoto e até na infraestrutura de energia do local em que fosse construído.

Em Sorocaba, Manga diz que as mudanças necessárias para autorizar o projeto serão realizadas na revisão do plano diretor da cidade, que está em discussão na Câmara de Vereadores.

“Geralmente, as construções têm três, quatro, cinco vezes o tamanho do terreno. Nesse caso, a gente está tirando esse limite [de altura] e tirando toda a taxação para a construção do prédio”, afirma.

O prefeito diz que mais de 100 empresários já teriam entrado em contato com a Secretaria Municipal de Planejamento para saber sobre a viabilidade da construção, que tem custo previsto de R$ 2 bilhões, mas não cita quais empresas teriam interesse em bancar o projeto.

O prédio mais alto de Sorocaba tem 141 metros de altura, 45 andares e abriga apartamentos de alto padrão.

Saúde

Para a gestão 2025-2028, Manga diz que colocará a saúde como prioridade. O prefeito promete finalizar a construção do Complexo Hospitalar Municipal de Sorocaba, que teve suas obras iniciadas em 2023.

A construção faz parte de uma promessa de campanha de Manga em 2020, quando ele disse que entregaria um hospital na zona norte da cidade. Com o custo inicial de R$ 120 milhões, o projeto está, atualmente, na segunda fase de execução e ainda não tem previsão para iniciar os atendimentos.

Manga defende que a inauguração irá desafogar o sistema de saúde da cidade, que reconheceu estar sobrecarregado.

“O nosso grande desafio é aquela consulta agendada, aquele exame agendado, que é isso que nós vamos atacar agora”, diz, citando as filas para os procedimentos e consultas médicas.

Além do novo hospital, o prefeito anunciou a inauguração de três Prontos Atendimentos (PAs) em Sorocaba, a contratação de médicos para um serviço de telemedicina e a construção de um centro de diagnósticos no terreno onde hoje fica a rodoviária da cidade, que deve mudar de endereço até abril de 2025.

“A gente acredita que com essas ações, os 3 PAs 24 horas, o hospital, a telemedicina, mais o centro de diagnóstico, a gente vai conseguir de uma vez por todas dar para a população o atendimento digno, que merece, na área da saúde”.

Corrupção

No primeiro mandato de Manga, sua gestão foi marcada por uma denúncia envolvendo o secretário de Desenvolvimento, Paulo Henrique Marcelo, condenado por superfaturamento e pagamento de propina.

O caso girava em torno da compra de um prédio no valor de R$ 30 milhões para abrigar a Secretaria de Educação de Sorocaba. Após a condenação do secretário, Manga exonerou Paulo Henrique do cargo, mas o episódio continuou a repercutir durante o período eleitoral, assim como outras investigações por suspeitas de favorecimentos de contratos.

Agora, o prefeito diz que quer investir mais no combate à corrupção e promete desenvolver um setor para analisar as contratações da Prefeitura, a fim de ter uma “visão antecipada” e enfrentar situações irregulares antes que elas se transformem em representações em órgãos de fiscalização, como o Ministério Público.

“Quero algo que dê mais transparência para as licitações, para que a população acompanhe e que os órgãos fiscalizadores acompanhem antes que aconteça qualquer tipo de processo ou representação do Ministério Público. Assim, os órgãos já têm uma visão antecipada, evitando, inclusive, esse desgaste político que acaba gerando em todo o governo”, explica.

Manga diz se inspirar no projeto Radar Anticorrupção da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), que envolve a publicação de contratos firmados pelo governo do estado em um Painel on-line. Para isso, segundo o seu plano de governo, há a promessa de melhorar a plataforma “Aprova Digital”, onde estão disponíveis documentos e projetos da prefeitura para o acesso do público.

O prefeito afirma que a medida também visa impedir a infiltração do crime organizado em contratos da prefeitura. Em abril deste ano, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) realizou uma operação contra duas empresas investigadas por vínculos com o Primeiro Comando da Capital (PCC), que já haviam firmado contratos com a Câmara e a Prefeitura de Sorocaba. A investigação também abrangeu outras cidades paulistas.

O prefeito defende a necessidade de articulação com os governos estadual e federal, destacando que “a criação de um departamento que promova mais transparência dificulta a ocorrência de casos como esse”.

Futuro político

Duas vezes vereador e agora reeleito prefeito de Sorocaba pelo segundo mandato consecutivo, Manga diz que tem recebido convites de nomes dentro e fora do Republicanos para disputar as eleições de 2026 como candidato a deputado, mas nega deixar o cargo atual antes do fim da próxima gestão, em 2028.

“Eu quero terminar o mandato como prefeito, essa é a minha pretensão. A população me reelegeu para isso e acho que tem muito mais para a gente fazer na cidade, como essa questão do hospital e da rodoviária”, afirma o político, que ampliou sua influência na região ao eleger o irmão, Weber Manga (Republicanos), para a prefeitura de Votorantim, cidade vizinha.

O prefeito sorocabano, no entanto, não esconde que sonha alto para o futuro. “Pode sim, pela fé, um dia ter um sorocabano na Presidência da República. Isso depende de Deus, da minha vontade e do povo”.

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