Brasil e Mundo
O preço do chocolate e a conta da crise climática
O ovo de páscoa está mais caro. Muito mais caro. O preço do cacau subiu cerca de 180% em dois anos, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA). O aumento não é apenas um reflexo de mercado. É um sintoma de algo maior: a crise climática e seus impactos na produção agrícola. A quebra de safra em Gana e Costa do Marfim, responsáveis por quase 60% do cacau mundial, foi causada por um cenário extremo de secas e chuvas irregulares, agravado pelo desmatamento nessas regiões. Mas o cacau não é um caso isolado. O café, o azeite e até o arroz também sofreram aumentos expressivos nos últimos meses devido a eventos climáticos extremos. No Brasil, a produção de café foi impactada por geadas e calor excessivo, afetando a oferta e pressionando os preços. Na Espanha, uma das piores secas da história reduziu drasticamente a colheita de azeitonas, levando o azeite a atingir valores recordes. O arroz, base da alimentação em muitos países, teve a produção afetada por enchentes na Ásia, levando o Vietnã e a Índia a restringirem exportações.
Esses fenômenos mostram que não se trata apenas de oscilações normais do mercado. O avanço das mudanças climáticas está tornando a produção de alimentos mais instável e vulnerável. Além da pressão econômica sobre consumidores e produtores, há um risco crescente para a segurança alimentar global. A solução passa por mudanças estruturais. Investir em práticas agrícolas sustentáveis, reduzir o desmatamento e garantir políticas de adaptação climática são medidas urgentes. O mercado também precisa se adaptar, com incentivos para cadeias produtivas mais resilientes. Enquanto isso, o consumidor pode buscar produtos certificados e pressionar empresas e governos por compromissos reais com a sustentabilidade. Porque não é apenas o preço do chocolate que está em jogo, mas o futuro da produção de alimentos em um planeta cada vez mais instável.
