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‘O cérebro do bolsonarismo é o celular; se pensar fora, já é traidor’, diz Otoni de Paula

A escolha do próximo líder da Frente Parlamentar Evangélica está longe de ser unânime, com duas candidaturas em destaque: Otoni de Paula (MDB-RJ), que tem estreitado laços com o governo Lula, e Gilberto Nascimento (PSD-SP), que se posiciona como um forte aliado do bolsonarismo. Ambos os candidatos têm vínculos com a Assembleia de Deus e representam correntes opostas dentro da bancada.

Recentemente, a disputa ganhou um contorno de tensão, com cerca de 30 deputados que apoiam Nascimento ameaçando abandonar a bancada caso Otoni seja eleito. Essa manobra pode comprometer o funcionamento da frente, que atualmente conta com 245 integrantes, entre deputados e senadores. De acordo com o regimento interno do Congresso Nacional, a manutenção do bloco exige um mínimo de 198 parlamentares, e a articulação bolsonarista visa garantir que essa cifra não seja alcançada.

Parlamentares ouvidos pelo titular desta coluna relataram um clima de descontentamento generalizado na bancada evangélica, sem sinais de consenso. A resistência em relação a Otoni é impulsionada pelo temor de que a frente comece a se alinhar ao governo federal. No final do ano passado, Otoni representou a bancada em uma reunião no Palácio do Planalto, onde o presidente sancionou o Dia Nacional da Música Gospel. Durante o encontro, ele foi criticado por elogiar o petista, e sua escolha de apoiar a reeleição de Eduardo Paes (PSD) no Rio também provocou descontentamento entre líderes religiosos bolsonaristas.

Em entrevista à Jovem Pan, Otoni fez duras críticas ao bolsonarismo. “Estão dizendo que sou o novo comunista gospel. Quem me acusa disso quer fazer da frente um puxadinho do bolsonarismo. A frente parlamentar não é uma igreja. É do parlamento e exige diálogo. Quem não quiser dialogar fica no culto, lá você não precisa dialogar com ninguém”, disse Otoni.

O parlamentar também criticou o olhar do bolsonarismo que entende como traidor aquele que não concorda com determinadas decisões. “Aproximar-se do Planalto ou de um ministro do governo já é taxado de comunista ou esquerdista. O cérebro do bolsonarismo é o celular; se pensar fora, já é traidor”, desabafa Otoni. Por outro lado, Nascimento é visto como um dos fundadores do movimento, tendo participado da criação da frente em 2003.

Com uma trajetória de quatro mandatos na Câmara e atuação como delegado da Polícia Civil, ele goza de respeito entre seus pares e conta com o apoio do pastor Silas Malafaia, uma figura influente na Assembleia de Deus Vitória em Cristo. A expectativa é de que a frente evangélica realize, pela primeira vez, uma eleição em 26 de fevereiro, na última quarta-feira do mês.

Historicamente, a bancada se orgulhou de escolher seus líderes por consenso, evitando votações. Em 2023, diante da falta de unanimidade, Otoni optou por se retirar da disputa, levando à formação de um acordo de presidência alternada entre Eli Borges (PL-TO) e Silas Câmara (Republicanos-AM).

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