Na Copa de 1954, jogadores brasileiros não sabiam que empate classificava a seleção

Percorrendo a história dos Mundiais, trago hoje no “Memória da Pan” um fato pitoresco. Em 1954, na Suíça, a seleção tentava superar a trágica derrota de quatro anos antes para o Uruguai em pleno Maracanã. Pela primeira vez, a equipe nacional usou camisa amarela. Era uma tentativa de apagar os “fantasmas” esportivos. Entretanto, os dirigentes não tiraram lições da Copa perdida em território nacional. 

Um grupo jovem e com bons nomes, como Didi, Djalma Santos, Nílton Santos e Julinho Botelho, partiu para a Europa. Muitos deles nunca tinham viajado de avião. Depois de uma goleada na estreia contra o México, 5 a 0, a seleção enfrentou a Iugoslávia. Por incrível que pareça, ninguém sabia que um simples empate já seria suficiente para garantir a classificação para as quartas de final. 

BRASIL 1 × 1 IUGOSLÁVIA – Lausanne – 19.06.54

Brasil: Castilho, Pinheiro e Nilton Santos; Djalma Santos, Brandãozinho e Bauer; Didi, Julinho, Baltazar, Pinga e Rodrigues.
Iugoslávia: Beara, Stankovic, Crnkovic, Cajkovski, Horvat, Boskov, Mitic, Vukas, Zebec, Milos Milutinovic e Dvornic.
Árbitro: Charlie Faultless (Escócia).
Gols: Zebec (3) e Didi (24) no segundo tempo.

Os 40 mil torcedores que estiveram no estádio La Pontaise, em Lausanne, viram o Brasil empatar com a Iugoslávia por 1 a 1. Zebec abriu o placar aos 3 minutos do segundo tempo. Didi deixou tudo igual aos 24. A partida, mesmo valendo pela fase de grupos, foi para a prorrogação, e os brasileiros, sem orientação nenhuma, achavam que só a vitória bastaria para a classificação. Conta Nilton Santos em O Jogo Bruto das Copas do Mundo, de Teixeira Heizer: “Os jogadores da Iugoslávia faziam sinais com as mãos, mostrando que o placar de 1 a 1 classificaria os dois times. Saímos de campo chorando. Mais tarde, no vestiário, ficamos alucinados quando soubemos que estávamos classificados”. Pesaram a inexperiência e o abismo que existia entre dirigentes e jogadores. De qualquer forma, apesar do empate com a Iugoslávia, a seleção estava garantida para a próxima fase da Copa.

Os jornais diziam que o técnico Zezé Moreira não escondeu a decepção com o desempenho do time brasileiro naquele dia: “Não sei a que atribuir a má conduta da equipe”. O treinador faria mudanças para a partida contra a Hungria, mas a seleção seria eliminada nas quartas de final com uma derrota por 4 a 2.

Abaixo, ouça uma gravação histórica da partida entre Brasil e Iugoslávia na transmissão de Jorge Curi, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro.