Milícia na Grande SP: secretário de Segurança era amigo de traficante

São Paulo — Conhecido como “magrão”, Sandro Torres Amante, secretário da Segurança Urbana de Ribeirão Pires, na Grande São Paulo, e comandante da Guarda Civil Municipal (GCM) da cidade, tem relações amistosas com traficantes locais, de acordo com informações dadas por testemunhas protegidas ao Ministério Público paulista (MPSP). Ele também é acusado de integrar uma milícia na cidade.

Os depoimentos, obtidos pelo Metrópoles, foram feitos ao MPSP a partir de 2020, quando o órgão passou a receber denúncias contra a alta cúpula da GCM de Ribeirão Pires. De acordo com a ação, essas testemunhas também integram a guarda municipal, inclusive em cargos de chefia.

Um guarda civil da cidade, que está há 20 anos na corporação, afirmou em depoimento que Sandro trabalha com “arrego de boca e outros delitos” há pelo menos 17 anos, e que ele teria relações com traficantes de diferentes bairros do município.

Essa mesma testemunha disse que, entre 2014 e 2015, ao fazer autuações por tráfico, os suspeitos diziam na delegacia “liga pro magrão” e que “o magrão corre com a gente”, sugerindo que o atual comandante da GCM pudesse livrá-los do flagrante.

Pelo menos outros dois depoimentos relatam um elo entre o secretário e o comércio ilegal de drogas.

“Alguma das vezes o próprio Sandro ligava falando que determinado rapaz era da ‘família’, no sentido de se liberar um ou outro traficante”, disse um guarda civil municipal ao MPSP.

Relações com prefeito

Ainda de acordo com os depoimentos, Sandro usaria a empresa de segurança que tem com o irmão e um primo para “levantar casas e cargas [para furto] desde 2008”.

Na época, o atual comandante chegou a ser exonerado da GCM, mas voltou ao cargo por determinação do então prefeito Clóvis Volpi (PV), pai do atual prefeito Guto Volpi (PL), que saiu em defesa de Sandro nas redes sociais nessa quinta (17/4), após repercussão das acusações contra o secretário na imprensa.

No perfil no Instagram, Volpi afirmou acreditar na inocência do secretário e elogiou a carreira profissional dele.

“Destaco aqui a trajetória do Sandro, guarda municipal com 30 anos de carreira na Prefeitura e contribuições à cidade. Reafirmo meu compromisso com a verdade, salientando que toda e qualquer decisão da Justiça será cumprida por nosso governo”, disse, em nota.

Sandro é comandante da GCM e assumiu a pasta da Segurança Urbana do município após eleição de Volpi, no último pleito. Ele foi nomeado para o cargo em dezembro de 2023, quando já era réu na ação penal que o condenou por furto qualificado.


Furto a açougues

  • Sandro, Gutembergue Martins Silva e Marcelo Cruz Dellavale, Carlos Douglas Furlani, Thiago Araújo Silva e Marcos Paulo Campanhã de Moraes, todos da Guarda Civil Municipal (GCM) de Ribeirão Pires, são acusados de furtar dois açougues na cidade na madrugada de 18 de junho de 2018.
  • De acordo com as investigações, os guardas municipais teriam alterado o posicionamento das câmeras de monitoramento da cidade para não serem flagrados durante o crime.
  • Eles também forjaram uma ocorrência policial para desviar a atenção dos agentes de segurança para um bairro distante.
  • A empresa de monitoramento responsável pela vigilância dos açougues furtados seria a mesma que ele supostamente utilizou desde 2008 para escolher alvos dos furtos. Ela pertenceria a um primo de Sandro e teria o próprio secretário da Segurança, além de Gutembergue, no quadro de funcionários.
  • Para o MPSP, a empresa possivelmente era utilizada para levantar potenciais estabelecimentos comerciais que seriam alvos de furto.
  • A investigação destaca que os comércios não apresentavam sinais de arrombamento, sugerindo o uso de chaves e outras formas de entrada acessíveis somente para quem realizava a segurança local.
  • Todos foram denunciados pelo Ministério Público por furto qualificado, receptação e associação criminosa.

Milícia na GCM

A partir das denúncias enviadas MPSP por testemunhas protegidas, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) passou a investigar a suspeita de atuação de uma milícia da GCM na cidade, que teria cometido crimes ao menos entre junho de 2018 e abril de 2019.

O Gaeco ainda trabalha com a hipótese de um eventual grupo de extermínio, já que os relatos das testemunhas apontam para diversos homicídios, cometidos entre 2013 e 2019.

Condenado por furto qualificado

Sandro foi condenado, em segunda instância, a dois anos e 11 meses de prisão em regime semiaberto e multa, junto de outros guardas municipais pelo furto qualificado dos dois açougues.

A defesa do secretário recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) questionando a validade das provas. Somente com o trânsito em julgado ele deve perder o cargo na GCM.

O Metrópoles tentou contatar os advogados de Sandro, mas não obteve sucesso. O espaço segue aberto.