Ficar muito tempo no celular pode atrapalhar quem quer ter filhos, apontam especialistas

Em um mundo cada vez mais digital, passar horas online se tornou rotina para grande parte das pessoas. No entanto, o uso excessivo de telas — como celulares, tablets, computadores e televisão — vem sendo apontado por especialistas como um novo fator de risco para a fertilidade. A combinação de tecnologia em excesso, sedentarismo, estresse constante e noites mal dormidas pode afetar a produção de hormônios, a qualidade dos óvulos e do sêmen, além do equilíbrio emocional de quem sonha em ter filhos.

O impacto do excesso de telas

Pesquisas recentes reforçam essa preocupação. Um estudo da Universidade de Genebra, na Suíça, em parceria com o Instituto de Saúde Pública e Tropical, mostrou que homens que usavam o celular mais de 20 vezes por dia apresentavam menor concentração e contagem total de espermatozoides. O estudo sugere que a exposição prolongada à radiação dos aparelhos, junto ao aumento do estresse e à redução do sono, pode afetar diretamente a função dos testículos. Embora sejam necessárias mais pesquisas, o alerta já mobiliza médicos de várias áreas para avaliar o impacto do estilo de vida moderno na fertilidade.

Quando o uso excessivo se transforma em problema para a saúde reprodutiva

O uso contínuo de dispositivos eletrônicos também influencia outros fatores ligados à reprodução. Passar muitas horas diante das telas está relacionado ao sedentarismo, ganho de peso e má alimentação, três situações que afetam a produção de hormônios e a ovulação nas mulheres. Além disso, a luz azul dos aparelhos interfere na produção de melatonina, o hormônio responsável pelo sono, podendo prejudicar a regulação dos hormônios reprodutivos.

Nas mulheres, essa alteração pode resultar em ciclos menstruais irregulares e dificuldade para ovular; nos homens, na redução da qualidade do sêmen e da produção de testosterona. O impacto emocional também precisa ser considerado: o excesso de redes sociais tem sido associado a níveis mais altos de ansiedade e depressão, fatores que, por si só, já podem prejudicar a fertilidade. Em tratamentos de reprodução assistida, por exemplo, controlar o estresse e melhorar a qualidade do sono são partes essenciais do caminho para o sucesso.

Como encontrar equilíbrio para não prejudicar a fertilidade

A boa notícia é que pequenas mudanças de hábitos podem fazer muita diferença. Diminuir o tempo de exposição às telas, principalmente à noite, priorizar noites de sono reparador e praticar atividades físicas regularmente ajudam a restabelecer o equilíbrio hormonal. Da mesma forma, manter uma alimentação rica em nutrientes, evitar o cigarro, o álcool em excesso e o ganho de peso colabora para melhorar a fertilidade natural.

Especialistas em reprodução humana afirmam que cuidar da fertilidade é, na verdade, cuidar da saúde como um todo. Isso inclui aprender a “desconectar para reconectar” — diminuir o excesso de estímulos digitais e retomar hábitos saudáveis que a correria do dia a dia deixou de lado.

O uso consciente da tecnologia é compatível com uma vida mais saudável e fértil. O desafio é encontrar um ponto de equilíbrio entre o mundo digital e o real, lembrando que o corpo humano ainda responde melhor ao que sempre precisou: descanso, movimento e tempo em família e amigos, não só em frente às telas.

Dra. Maria Cecília Erthal – CRM/RJ 408660 | RQE 30301
Médica especialista em Reprodução Humana
Membro da Brazil Health