Estrela “luta” pela vida (duas vezes) contra um buraco negro supermassivo

Um buraco negro supermassivo distante de nós acabou tendo “olhos maiores que a barriga” ao selecionar uma estrela gigante para “abocanhar“. Ela não só escapou de seu fim, como, ainda, voltou a enfrentá-lo.

Esse emocionante embate foi documentado em estudo publicado na Astrophysical Journal Letters e realizado por pesquisadores da Escola de Física e Astronomia da Universidade de Tel Aviv (Israel) e do Departamento de Física da Universidade de Lancaster (Reino Unido).

Buracos negros supermassivos são bem “famintos” (Imagem: Nazarii_Neshcherenskyi/Shutterstock)

O que o estudo conta sobre o embate entre a estrela e o buraco negro supermassivo?

Evidências da estrela corajosa foram vistas na forma de brilho, seguido por uma segunda explosão quase igual em torno de dois anos depois, ou 700 dias;

O duplo brilho foi denominado AT 2022dbl;

A equipe teorizou que isso pode ter acontecido graças a duas “mordidas” realizadas na mesma estrela;

Essa descoberta é a primeira evidência de que uma estrela escapando da morte certa de um buraco negro supermassivo e que retorna para um novo encontro.

Com isso, ficou uma questão para os pesquisadores: a estrela sobreviveu para voltar para um terceiro round?

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É possível que a estrela tenha sobrevivido; saberemos disso daqui a 700 dias (Imagem: NRAO/AUI/NSF/NASA

Mudando nosso ponto de vista

Esse comportamento pode mudar nossa visão dos “eventos de ruptura de maré”, ou “TDEs” (na sigla em inglês), nos quais que os buracos negros rasgam estrelas e as devoram.

Os buracos negros supermassivos com massas iguais às de milhões e bilhões de sóis existem a rodo em grandes galáxias.

Esses TDEs ocorrem quando estrelas “desavisadas” ficam muito próximo desses buracos negros e sofrem com a forte gravidade deles, gerando grande força de maré dentro da estrela, que, simultaneamente, a esmagam horizontalmente, enquanto a esticam verticalmente.

O processo acima é conhecido como “espaguetificação“, resultando em massas estelares trituradas, sendo que algumas caem ao redor do buraco negro, e o envolve como se fosse um espaguete em um garfo. O buraco se alimenta gradualmente dele. O restante do material é lançado ao redor do buraco negro supermassivo.

O material que fica gira em torno do buraco a velocidades muito rápidas, o que gera fricção e causa rajadas de luz, e o material ejetado se inflama. Essas explosões duram de semanas a meses, iluminando, assim, a região em torno do buraco negro, permitindo que ele seja estudado.

Contudo, na última década, alguns TDEs observados não se comportaram da forma esperada. Segundo o Space.com, isso ocorre, pois tanto a temperatura quanto o brilho de certos TDEs foram menores do que se espera.

O AT 2022dbl seria capaz de explicar isso, implicando que alguns buracos negros gostam de “degustar” as estrelas antes de destruí-las de uma vez.

Conjunto de estrelas (Imagem: Triff/Shutterstock)

Próximos passos

Agora, a equipe busca saber se a terceira luta entre ambos poderia ser uma “ousadia” estelar. Segundo os pesquisadores, se a estrela sobreviveu ao segundo encontro, ela deve voltar a passar perto e isso vai causar uma terceira erupção em cerca de 700 dias após a anterior.

“A questão, agora, é se veremos um terceiro encontro depois de mais dois anos, no início de 2026. Se vemos um terceiro brilho, significa que o segundo também foi a ruptura parcial da estrela. Então, talvez, todas essas explosões, que temos tentado entender há uma década como interrupções estelares completas, não são o que pensávamos”, explicou Iair Arcavi, membro da equipe e pesquisador da Universidade de Tel Aviv.

Se um terceiro brilho não irromper em dois anos, pode significar que o segundo encontro entre estrela e buraco negro foi o último. E, se foi isso mesmo o que aconteceu, a semelhança entre os brilhos implicaria que as explosões de TDE não são fatais, ou as interrupções, parciais e completas, parecem as mesmas.

Isso é algo previsto anteriormente pelos cientistas, mas, até então, não havia provas por meio de observações. “De qualquer forma, teremos que reescrever nossa interpretação desses brilhos e o que elas podem nos ensinar sobre os monstros que estão nos centros das galáxias”, finalizou Arcavi.
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