O presidente Lula publicou um artigo no The New York Times em que rebateu o aumento de tarifas imposto pelos Estados Unidos às exportações brasileiras e enviou um recado direto ao presidente Donald Trump: o Brasil não aceitará abrir mão de sua soberania e de sua democracia em negociações comerciais.
O texto combina tom diplomático com política. Lula afirma que está aberto ao diálogo e a soluções de benefício mútuo, mas deixa claro que certos princípios não estão em jogo. “A democracia e a soberania do Brasil não estão na mesa”, escreveu. Além disso, defendeu a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) nas condenações relacionadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, contrapondo-se à narrativa de perseguição política difundida nos EUA.
A análise do artigo sugere uma dupla camada de objetivos
Preocupação com o Brasil: Lula reage às tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, que atingem exportadores, empregos e empresas nacionais. Ao mesmo tempo, busca legitimar o sistema judicial brasileiro perante críticas externas e garantir respeito às instituições do país.
Construção de narrativa eleitoral: em um momento de forte polarização, Lula reforça a imagem de presidente firme, que não se dobra a pressões internacionais e que protege a democracia. Essa postura projeta autoridade e pode servir como ativo político para a eleição de 2026.
Na prática, a mensagem ao público externo se mistura com um discurso que pode ressoar internamente, apresentando Lula como defensor da pátria contra “inimigos externos”.
O impacto para o Brasil e para o agro
As tarifas impostas pelos EUA não são apenas questão diplomática: afetam cadeias produtivas brasileiras ligadas ao agro e à indústria. Se as medidas persistirem, haverá risco de retração de exportações, encarecimento de insumos e maior instabilidade para setores estratégicos da economia.
Ao internacionalizar o debate, Lula busca apoio da opinião pública global, mas também se expõe ao risco de escalada diplomática com Washington, especialmente em um cenário em que Trump adota políticas comerciais agressivas. Para o agro brasileiro, essa tensão significa incerteza: os mercados podem se fechar, enquanto alternativas em blocos como BRICS ou União Europeia ganham peso.
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O artigo de Lula no NYT não é apenas uma defesa econômica e institucional do Brasil. Ele também funciona como peça política de alto valor simbólico: projeta imagem no exterior e, ao mesmo tempo, pretende fortalecer a narrativa doméstica de que Lula é o guardião da democracia e da soberania.
Em resumo, há um objetivo duplo: proteger os interesses do país diante das tarifas americanas e, ao mesmo tempo, pavimentar terreno para a reeleição em 2026. O desafio será equilibrar esse discurso sem comprometer a economia nacional, sobretudo setores exportadores como o agronegócio, que podem pagar a conta da escalada de tensões.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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