A viticultura na Sicília tem raízes antiquíssimas, ligadas à posição estratégica da ilha no coração do Mediterrâneo. Os primeiros a cultivar uvas viníferas na região foram os fenícios, por volta do século VIII a.C., quando instalaram colônias costeiras e trouxeram mudas e técnicas agrícolas do Médio Oriente. Pouco depois, os gregos, que colonizaram a Sicília a partir do século VII a.C., consolidaram o cultivo, sobretudo nas áreas de Naxos, Siracusa e no entorno do Monte Etna, onde o solo vulcânico e o clima favoreceram vinhos de alta qualidade. Foram os gregos também os responsáveis por transformar o vinho em elemento central da vida cultural e religiosa da ilha.
Vale lembrar que, por volta de 750 a.C., a Sicília tinha três colônias fenícias e uma dúzia de colônias gregas ao longo de suas costas, tornando-se um dos centros da Magna Grécia . As Guerras Sicilianas de 580–265 a.C. foram travadas entre os cartagineses e gregos, e as Guerras Púnicas de 264–146 a.C. foram travadas entre Roma e Cartago. A província romana da Sicília terminou com a queda do Império Romano no século V d.C. A Sicília foi governada durante a Alta Idade Média pelos vândalos , os ostrogodos , o Império Bizantino e o Emirado da Sicília.
Com a chegada dos romanos, que não deram origem a etnia trinacriana, a viticultura se expandiu e a Sicília passou a ser considerada uma das grandes regiões fornecedoras de vinho do Império. Ao longo da Idade Média, monges e nobres mantiveram a produção, e mais tarde, no século XVIII, famílias aristocráticas e comerciantes estrangeiros modernizaram vinhedos e impulsionaram a exportação, especialmente do vinho Marsala, que se tornou célebre em toda a Europa.
Hoje, o consumo de vinho na Sicília está profundamente integrado à culinária local, marcada por influências árabes, gregas e italianas. Os brancos frescos acompanham peixes, frutos do mar e pratos com ervas e cítricos, típicos da cozinha costeira, enquanto os tintos mais encorpados harmonizam com carnes, massas robustas e queijos curados.
Vamos focar, um pouco, nos brancos sicilianos, que refletem a riqueza do território da ilha e a diversidade de climas, solos e tradições vitivinícolas e ganharam enorme prestígio nas últimas décadas, destacando-se pela mineralidade, frescor e caráter mediterrâneo.
As principais uvas brancas autóctones são Grillo, de grande expressão aromática e base tradicional do vinho Marsala; Catarratto, uma das mais antigas e cultivadas da ilha, responsável por brancos leves, frescos e de acidez equilibrada; Inzolia (ou Ansonica), que confere notas delicadas e elegância; e Carricante, típica da região do Etna, capaz de gerar vinhos de alta mineralidade, acidez firme e grande longevidade. Além delas, a Sicília também cultiva variedades internacionais como Chardonnay e Sauvignon Blanc, que se adaptaram muito bem ao terroir local.
Entre os estilos, encontram-se desde vinhos brancos jovens e aromáticos, ideais para consumo rápido, até exemplares mais estruturados e complexos, fermentados ou maturados em barrica. Os vinhos do Etna Bianco, à base de Carricante, são considerados entre os mais sofisticados da ilha, com capacidade de envelhecer por 10 anos ou mais, desenvolvendo notas de mel, frutos secos e hidrocarbonetos, semelhantes aos grandes Rieslings. Já os Grillo e Catarratto tendem a oferecer longevidade intermediária, entre 3 e 6 anos, mantendo frescor e tipicidade.
No mundo, os vinhos brancos sicilianos conquistaram espaço nos últimos 20 anos, acompanhando a valorização global da enogastronomia do sul da Itália. São muito consumidos em países da Europa, Estados Unidos e também no Japão, onde sua combinação de frescor, mineralidade e notas cítricas se harmoniza bem com frutos do mar. Além disso, ganharam protagonismo na exportação por se apresentarem como vinhos de excelente relação qualidade-preço.
Assim, os brancos da Sicília expressam não apenas a identidade da ilha, mas também a modernidade de uma viticultura que soube unir tradição e inovação, oferecendo vinhos que vão do prazer imediato à sofisticação dos rótulos de guarda.
O vinho não é apenas uma bebida, mas parte do patrimônio cultural siciliano, refletindo a diversidade do território e sua longa história agrícola. E, neste diapasão, considerando o perfil e tendências de consumo do brasileiro, o vinho branco da Sicília será uma escolha certeira. Salut!