Donald Trump completa seus primeiros 100 dias de governo com um saldo que preocupa o mundo e coloca em risco a hegemonia americana construída ao longo de quase um século. Suas decisões desastrosas nas áreas de comércio internacional, política social e gestão econômica estão acelerando a perda de credibilidade dos Estados Unidos — e abrindo espaço justamente para aquilo que a China mais deseja: ocupar o lugar de liderança global.
No comércio internacional, Trump apostou em tarifas e confrontos. Ao elevar impostos de importação e atacar parceiros como China, União Europeia, México e Canadá, isolou os Estados Unidos, provocou retaliações e prejudicou exportadores americanos. Enquanto isso, a China aproveita o vácuo deixado por Washington para se aproximar de antigos aliados americanos, firmar novos acordos e consolidar sua posição como potência econômica e diplomática.
Na área social, a situação também é alarmante. O discurso agressivo contra imigrantes, minorias e direitos civis gerou tensão interna e prejudicou profundamente a imagem do país no exterior. A América, símbolo de liberdade e oportunidades, agora é vista com desconfiança e divisão.
Na gestão do Estado, Trump amplia gastos públicos sem responsabilidade fiscal. O resultado é uma dívida crescente e cada vez mais cara de financiar. Com a alta dos juros globais, investidores começam a fugir dos títulos americanos e a questionar a solidez do dólar, minando a confiança no principal ativo financeiro mundial.
Esse enfraquecimento dos Estados Unidos no cenário global é exatamente o que mais interessa à China. Pequim vem se fortalecendo silenciosamente: investe, negocia, constrói alianças e preenche os espaços que Washington, por erro ou descuido, está deixando abertos.
Se em apenas 100 dias Trump conseguiu iniciar um processo de enfraquecimento tão profundo, o que esperar do restante do mandato? A conta, infelizmente, pode ser alta não apenas para os americanos, mas para todo o equilíbrio econômico e geopolítico do planeta.
Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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