São Paulo — O tenente da Polícia Militar Fernando Genauro da Silva, apontado como o motorista do veículo usado na execução de Vinícius Gritzbach, comprou uma McLaren por R$ 2,2 milhões menos de dois meses após o crime. O carro, de modelo 570S Spider 3.8 Bi Turbo e fabricado em 2019, seria pago em 11 parcelas de R$ 200 mil.
“Fiz merda. E não foi cocô”, diz Genauro a um amigo por mensagem. “11 parcelas de 200. Não resisti”, acrescenta.
As informações constam no inquérito policial militar, concluído em 12 de abril, que indiciou o tenente e outros 15 policiais militares por envolvimento no assassinatos do inimigo do Primeiro Comando da Capital (PCC) em 8 novembro no Aeroporto de Guarulhos.
Preso desde 18 de janeiro, Genauro vai responder na Justiça Militar por organização criminosa para a prática de violência, além do processo por participação no homicídio qualificado na Justiça comum.
De acordo com o IPM, o valor do carro adquirido pelo tenente seria ainda maior na tabela Fipe, ultrapassando R$ 2,8 milhões.
O homem com quem Genauro conversa nas mensagens demonstra preocupação. O tenente ironiza, dizendo que o veículo não vai chamar atenção.
“Tenho que ficar 24 horas pendurado na sua orelha para você não fazer bosta. Tá pior que as crianças. Ô, meu Deus do céu”, afirma o interlocutor.
“Preciso ir buscar às 21h”, responde o tenente. “Foda que não vai chamar a atenção, não tem engate. […] O cara falou a palavra correta. Prazo”, acrescenta ele.
O negócio foi fechado com a Blessed Intermediações. Em contato com a empresa, a polícia descobriu que o comprador foi Thiago Rios Cirullo, por meio da A11 Holding LTDA.
Ouvido, ele disse não conhecer ou manter qualquer vínculo com Genauro. Depois da compra o carro foi transferido para a Prime Veículos Premium LTDA.
Ostentação
No aparelho celular de Fernando Genauro, foram encontradas várias imagens maços de dinheiro dispostos no volante de um carro de luxo. Pouco mais de um mês após o crime, ele também tirou foto de um kit de relógios de alto padrão — e todos os modelos organizados em um elegante estojo.
Segundo as investigações, ele gastou R$ 36,5 mil em espécie. Em conversas deletadas no Instagram, Genauro negociou a compra de um óculos de modelo Juliet 24k por R$ 6 mil.
As imagens foram obtidas a partir de um Iphone 15 Pro Max avaliado em R$ 8 mil, adquirido um dia depois do assassinato.
Para a Polícia Civil, a execução de Vinícius Gritzbach foi paga em criptomoedas e dinheiro vivo. Um indício, diz o relatório de investigação, é a grande quantidade de prints com cotação de moedas digitais encontradas nos celulares deles. No entanto, não foi possível localizar o dinheiro, nem precisar quando custou o crime.
Envolvimento
Assim que Vinícius Gritzbach desembarcou no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em 8 de novembro, Fernando Genauro telefonou para um PMs que faziam sua segurança para confirmar que ele havia chegado. A ligação foi citada pela polícia para apontar o envolvimento do tenente no crime.
O uso de celular, que acionou antenas de transmissão, imagens de câmeras de monitoramento e contradições no depoimento, também colocam o tenente Genauro no volante do Gol que levou os atiradores até o aeroporto de Guarulhos. Além disso, um boné branco, um par de tênis da mesma cor e peças de roupa encontradas em sua casa são idênticas às usadas por um dos ocupantes do Gol.
A forma de caminhar do motorista do carro usado no assassinato também se assemelha ao do policial, reforçando o fato de ele estar envolvido com o crime.
A quebra do sigilo telemático do celular dos PMs Ruan Silva Rodrigues e Denis Antonio Martins, apontados como atiradores, também contribuiu para a Polícia Civil reforçar a relação entre eles. Constatou-se na investigação que, cinco dias após o assassinato, Ruan recebeu nove ligações de Dênis.
Em 15 de novembro, Ruan trocou de celular. Dênis Antônio Martins fez a mesma coisa, no dia seguinte, da mesma forma que já havia sido feito por Fernando Genauro.
Outro ponto destacado pelo DHPP é o fato dos policiais, além das ligações e uso de aplicativos de mensagem, também usarem torpedos de SMS, para dificultar a identificação de seus diálogos.