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A emergência da violência entre aqueles que deveriam proteger: uma reflexão sobre a tragédia no Hospital Brasília.
Numa manhã fria e sombria do dia 16 de janeiro, os ecos de uma tragédia começaram a se espalhar pelos corredores do Hospital Brasília, no Lago Sul. Imagens de um ato impensável se desenrolavam, enquanto um delegado da Polícia Civil do Distrito Federal, Mikhail Rocha, abalava o tecido da sociedade ao disparar contra a própria esposa e duas outras mulheres. O que se passa na mente de um homem que deveria ser um defensor da lei, mas se transforma em um predador?
O clima na vizinhança do Residencial Santa Mônica, em São Sebastião, ficou carregado de incertezas e medos. O dia começara normalmente para muitas famílias, mas logo se tornaria sinônimo de horror. Mikhail, em evidente surto, revoltou-se ao não conseguir atendimento prioritário para seu filho de apenas sete anos no hospital. Esse desespero, indo além do que se poderia imaginar, o levou a sacar uma arma e abrir fogo, atingindo sua esposa, Andrea Rodrigues, e uma enfermeira, Priscila Pessôa, que tentava prestar socorro. Oscelina, outra vítima, também sofreu as consequências desse ato de fúria insana.
Enquanto o clima de desespero se instalava no ambiente, a cena se desenrolava como um filme de terror: a gravidade dos ferimentos exigia habilidade médica apurada, já que Andrea, mãe, esposa e mulher, recebeu pelo menos três disparos. O impacto desses eventos não recaiu apenas sobre as vítimas, mas também sobre a criança que, até aquele momento inocente e despreocupada, agora se via arrastada para a realidade cruel e distorcida de um pai que sucumbira à sua própria escuridão.
As horas se arrastaram enquanto os detalhes do caso começaram a emergir. Major Raphael Broocke, porta-voz da PMDF, explicou que Mikhail e seu filho foram levados para a Corregedoria da PCDF, onde o menino, que passou mal, também foi recebido. O menino, ausente da compreensão do que acontecia, enfrentava o próprio tormento, enquanto a vida ao seu redor se desmoronava. O delegado, afastado de suas funções há 30 dias, foi imobilizado pela mesma polícia que um dia serviu. O que aconteceu com a imagem de autoridade, com o dever de proteger e servir?
As clínicas médicas começaram a se mobilizar, e as enfermeiras, deslumbradas pela brutalidade do ato, tornaram-se parte do testemunho da crueldade humana. “Estamos aqui para ajudar!”, ecoava a voz de Priscila no fundo de uma sala de emergência, enquanto lutava contra seus próprios ferimentos e o estigma de ser uma vítima de alguém que deveria nunca ter se deixado levar por essa escuridão.
Os noticiários, ávidos para relatar a história, se tornaram um reflexo da perplexidade de uma sociedade que ainda crê na boa intenção das pessoas, mas que agora também reconhece a fragilidade das relações e a profundidade das consequências de ações impulsivas.
Enquanto as vítimas lutavam pela vida, uma nova narrativa emergia — a de que a violência não é um problema distante, mas uma realidade que permeia todas as camadas sociais. O que fazer quando quem deveria proteger foge da sua própria responsabilidade? Quando a linha entre a justiça e a injustiça se torna tão tênue e quebradiça?
À medida que os dias passam, o medo e a raiva se entrelaçam nas mentes e corações de muitos. A comunidade busca respostas, e o clamor por justiça se intensifica. O caso de Mikhail Rocha não é apenas uma estatística, mas uma memória que agora habita a lembrança coletiva de todos que passaram por essa tragédia. O legado do que aconteceu no dia 16 de janeiro será um lembrete constante da importância de cuidar de nossas emoções, nossa saúde mental e, acima de tudo, de nossos relacionamentos.
