A busca por segurança: refletindo sobre a violência doméstica e a necessidade de mudança social.

No início de janeiro de 2024, uma casa em Recanto das Emas, que deveria ser um refúgio seguro, se transformou em um espaço de horror. Naquela noite, Ronildo Bispo da Gama, um homem que uma vez havia professado amor à sua ex-companheira, se tornou o algoz. Ele utilizou um cabo de vassoura e panelas como armas, desencadeando uma briga que não só feriu sua ex-esposa, mas também marcou para sempre a vida de suas filhas, de apenas 3 e 7 anos.

O ato de violência, que ficou registrado nos anais de uma sociedade que ainda luta contra o feminicídio, aconteceu após um encontro familiar, um momento que poderia ter sido de celebração, mas que rapidamente se transformou em um pesadelo. A mulher, agredida com fúria, não tinha apenas marcas no corpo, mas também um trauma profundo incutido na mente, agravado pelo incessante medo de que a brutalidade se repetisse. “Ele ia me matar. Hoje não era para eu estar viva”, desabafou ela ao receber atendimento médico, as palavras carregadas de desespero e incredulidade.

Se não fosse a coragem de uma de suas filhas, que, em meio ao pânico, pediu socorro a vizinhos, quem sabe o que teria acontecido naquela noite. Graças à intervenção deles, a violência foi interrompida, mas a questão fundamental ainda permanecia: por que Ronildo não havia sido preso antes? Ele já havia sido denunciado por violência doméstica, mas as medidas protetivas não foram suficientes para garantir a segurança da vítima.

A história se desdobrou quando Ronildo se apresentou à polícia, mas, paradoxalmente, terminou por não ser preso devido à falta de um mandado. Enquanto isso, o irmão dele, Gilberto, fazia pouco caso da situação nas redes sociais, zombando e compartilhando imagens ao lado de um delegado, como se a gravidade do crime fosse apenas uma questão de piada. “Chupa pra quem achou que meu irmão ia preso”, declarou Gilberto, em um momento que espelha a normalização da violência contra a mulher em algumas esferas da sociedade.

A condenação de Ronildo, 10 anos e 8 meses em regime fechado, trouxe um vislumbre de justiça, mas a pergunta que permeia as discussões é: até quando as mulheres precisarão viver com medo em seus próprios lares? E mais: como uma sociedade pode se proteger e, de fato, construir um espaço seguro para aqueles que mais precisam de amparo?

Cada violação, cada grito silencioso, ecoa a necessidade urgente de mudança. As vítimas precisam de mais do que promessas e palavras — elas precisam de proteção e respeito. Com cada relato de violência, a esperança é que novas vozes se levantem, que ações sejam tomadas e que o fechamento da ferida do abuso se torne prioridade. A luta é por um amanhã onde mulheres não temam por suas vidas dentro de casa, mas possam, ao contrário, olhar para seus lares e encontrar neles um porto seguro.